Célia Xakriabá e Paulo Vieira debatem no YouTube do Museu do Amanhã

 

Os povos Indígenas compõem mais de 5% da população mundial (cerca de 350 milhões de pessoas), segundo a ONU. Com culturas de relação profunda e equilibrada com a natureza, os indígenas do Brasil nos propõem importantes reflexões sobre como tratamos a Terra e seus recursos. Na última sexta-feira (14), o Museu do Amanhã e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) promoveram uma conversa entre a educadora e ativista indígena Célia Xakriabá e o ator e humorista Paulo Vieira sobre a identidade indígena no Brasil.

 

A sensibilidade do ator e a carga poética das falas de Célia deram o tom do bate-papo, que incluiu questões sobre sustentabilidade, alimentação, educação, religião e ancestralidades. Célia abordou as lutas indígenas, principalmente em meio à pandemia da Covid-19.

 

 

"Somos um povo que resiste pela força da ancestralidade. Entendemos o que vem de dentro, isso sim é sustentabilidade, é o que fazemos com o corpo-território" — Célia Xakriabá

 

 

“Somos um povo que resiste pela força da ancestralidade. Entendemos o que vem de dentro, isso sim é sustentabilidade, é o que fazemos com o corpo-território. Cada vez que tentam nos arrancar nossos territórios, inventamos novos. Porque nosso território também é história, narrativa, memória, conhecimento, é a ciência que nasce do útero da terra. O fogo que queima a Amazônia e o Cerrado jamais vai queimar a força da nossa palavra e não vai acabar com a nossa espiritualidade”, disse Célia.

 

Já Paulo, com simplicidade, respeito e pitadas de humor que o caracterizam, colocou-se no papel do público, trazendo dúvidas e inquietações que estão na mente dos espectadores — e fazendo a ponte com a realidade indígena. “É tribo ou aldeia? Pode casar com qualquer pessoa? Pode chamar de índio?”. Essas e outras questões foram ponto de partida para um bate-papo informal, rico e permeado por reflexões profundas. Para o ator, a sociedade deve exercitar mais o papel de escuta dos povos indígenas.

 

 

"Olhar para os povos originários é entender o que está acontecendo e saber onde nós erramos" — Paulo Vieira

 

 

“Nesse momento em que a gente passa por uma pandemia que não pode deixar de ser vista como um desastre ambiental, não podemos passar por isso de maneira cega. Olhar para os povos originários é entender o que está acontecendo e saber onde nós erramos”, frisou o ator.

 

Ao falar sobre educação escolar, Célia ressaltou que é muito importante para os indígenas “aprender sem se prender”. Também comentou sobre a importância de ter professores indígenas nas escolas indígenas e de mudar as narrativas das instituições de ensino sobre a história do país: “Precisamos parar de replicar a primeira fake news: que Cabral descobriu o Brasil”.

 

Confira o programa completo no YouTube do Museu do Amanhã

 

A diversidade foi tema recorrente em sua fala. “É importante reconhecer os 305 povos indígenas, na diversidade brasileira. Eu tenho medo da monocultura. Pra mim toda monocultura mata. Essa ideia de ‘monoculturação’ mata o pensamento, mata a terra. Todo mundo fala que um prato que tem sustança é um prato colorido, diverso. Mas ninguém pensa assim para um projeto de sociedade”. Ao ser perguntada sobre a primeira coisa que ensinaria aos não indígenas, voltou ao tema: “A diversidade cura. A diversidade alimenta”.

 

Paulo e Célia também se encontram na arte. Apesar da trajetória com o humor, ele disse que quando está muito triste tenta fazer arte. Já Célia contou que não houve um momento de se descobrir poeta. "Talvez eu tenha capacidade de fazer da luta melodia".