idg na midia ‘Cultura pode gerar emprego de forma imediata’, diz líder do IDG, que vai abrir Museu do Jardim Botânico, no Rio

01/03/2024

O pós-pandemia amplificou o papel de museus e da cultura como um motor para impulsionar a economia, gerando novos negócios, emprego e renda, avalia Ricardo Piquet, presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização responsável pela gestão de espaços culturais como o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o Paço do Frevo, em Recife, e o Museu das Favelas, em São Paulo (SP).

Dois movimentos, continua ele, puxaram essa guinada. De um lado, cresceu a demanda por cultura — por livros, filmes, música, shows, lives, exposições e espetáculos diversos — ampliando a conexão do público com espaços culturais. De outro, o restabelecimento da Lei Rouanet, a partir de 2023, permitiu a captação de mais recursos para alavancar a produção e atrair empresas e patrocínio aos projetos.

— É um despertar para possibilidades que não eram vistas nem por quem produz cultura nem por quem consome. Houve o desejo de consumir cultura. O on-line abriu portas para levar a produção a outros públicos. Em um ano (2023), foram apresentados mais projetos na Lei Rouanet que nos quatro anteriores — destaca Piquet.

Com as pessoas em busca de experiências e lazer após os anos de pandemia, a cultura — diretamente ligada ao segmento de turismo e eventos — passou a atrair também a atenção de empresas dispostas a associar sua marca a projetos e propostas ligados a temáticas específicas.

— Gerou-se um clima muito favorável de que, ao produzir (cultura), se teria alguém que pudesse pagar, (entes) públicos ou privados — diz ele. — Espaços culturais viram hubs de oportunidades, conexões, formação, negócios — afirma.

O movimento ligado à área ambiental é mais evidente, observa ele, e deve crescer nos próximos dois anos com o Brasil como sede do G20, em 2024, e da COP30, em 2025. Para Piquet, a cultura precisa embarcar nessa oportunidade.

Mais frentes se abrem. O IDG está à frente, por exemplo, da curadoria e da gestão do novo Museu do Jardim Botânico, no Rio, que soma R$ 23 milhões em investimento em três anos, com patrocínio da Shell Brasil. A inauguração está prevista para o próximo dia 8:

— Ao conversar com empresas e seus executivos (para captar recursos para projetos), reforço que o investimento em cultura não é despesa, vai fazer bem à empresa e à sociedade na qual está inserida. Temos vários exemplos de bons patrocinadores, como a CCR e a Engie, parceiros no Museu do Amanhã.

Com 25 anos de experiência profissional — 12 deles no IDG, após atuar na Fundação Roberto Marinho e na Vale, entre outras companhias —, Piquet atua fazendo gestão como Organização Social (OS), modelo que defende pela eficiência na administração. Trata-se de uma organização privada, sem fins lucrativos e de interesse público.

O Museu da Língua Portuguesa, destaca, foi um dos primeiros de São Paulo a ter contrato de gestão via OS. O equipamento cultural é gerido por uma parceria firmada por contrato entre a OS e o ente público, com aporte financeiro compartilhado e sujeito a regras legais específicas:

— Hoje, 90% de seus equipamentos culturais estaduais são geridos por uma OS. E 85% do orçamento da Secretaria de Cultura vão para as OSs administrarem. Se esses equipamentos voltassem para o estado, presume-se que ele teria um custo pelo menos 50% maior — pondera.

Em São Paulo e em Recife, os contratos têm aporte dividido meio a meio entre o ente público e o IDG, via patrocinadores.

No Rio, o Museu do Amanhã — com orçamento anual de R$ 40 milhões — tem 95% dos recursos captados com investidores, após ter enfrentado corte de repasses pela antiga gestão do município. Não é o ideal, diz Piquet, porque a responsabilidade deixa de ser dividida com o estado. Mas demonstra o valor do ativo.

Na ponta, esses espaços culturais multiplicam negócios, emprego e renda em seu entorno, diz ele, destacando que, no Porto Maravilha, o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã movimentam juntos três milhões de pessoas por ano. Isso se reflete em demanda a outros serviços e negócios.

Em novembro, o IDG entregou a restauração do Cais do Valongo. Ele fica na região do Rio conhecida como Pequena África, escolhida pela Embratur como um dos primeiros roteiros de afroturismo do país a ser promovido no exterior.

Piquet destaca que a cultura contribui com 3,4% do PIB do país, citando pesquisa da FGV, um fatia superior a de setores como a indústria automobilística, mas tem acesso a menos incentivo fiscal.

— Serão R$ 4 bilhões por ano para carros elétricos. A cultura toda vai ter R$ 2,2 bilhões. Só que cultura pode gerar emprego imediato.