Atividades turísticas e econômicas em torno do oceano são aliadas da conservação

 

O que sabemos sobre a biodiversidade do fundo do mar?

De que formas os oceanos estão sendo ameaçados e como podemos preservá-los?

O que a sociedade precisa aprender sobre eles e quais são as possíveis formas de engajamento?

 

Na 3ª edição do Caminhos para Sociedades Sustentáveis, dia 6 de novembro, o Museu do Amanhã e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente convidaram a atriz Maria Flor, Alexander Turra, biólogo e professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), e Lika Souza, engenheira de pesca, mergulhadora e ativista ambiental, para conversarem sobre o "Nosso Oceano". Assuntos como turismo sustentável, poluição plástica, o PIB dos oceanos, poluição sonora que afeta a vida marinha e o encantamento de um mergulho nas águas profundas permearam o bate-papo.

 

Maria Flor conduziu a jornada trazendo perguntas de seguidores de seu perfil no Instagram e revelando que ela mesmo tinha curiosidade de saber mais sobre o que definiu como o “universo desconhecido do oceano”. Turra destacou que o tamanho do oceano que está sob jurisdição do Brasil equivale a 5,7 milhões de quilômetros quadrados — enquanto o Brasil “terrestre” tem 8,5 milhões — e que um terço dos brasileiros nunca foi ao mar. Lika também lembrou que a Década dos Oceanos, instituída pelas Nações Unidas para começar em 2021, deve servir justamente para ajudar na divulgação científica e das atividades da sociedade civil em prol da preservação, ajudando a popularizar o debate. Para ambos, as atividades turísticas e econômicas em torno do oceano são aliadas da conservação.

 

 

"No Brasil, as atividades em torno dos oceanos equivalem a 19% do PIB. O agro representa 21%! Boa parte disso é relacionado a serviços de turismo", disse Alexander Turra.

 

 

"O turismo ecológico e científico desenvolvido em áreas naturais tem a conservação do meio ambiente como base. As áreas de turismo no Nordeste precisam ter regras, gestão pública local e agentes que desenvolvem essas atividades têm que se organizar. O interesse econômico tem que ser inteligente e baseado numa economia sustentável. O turismo de base comunitária também é importante. Quem tem recursos muda de praia, mas a população fica”, comentou Lika, lembrando que o mergulho é uma atividade crescente e estratégica. “É uma prática importante de encantamento, que estimula o pensamento crítico”.

 

“Essa percepção que encanta, e que faz transformar, realmente precisamos estimular. Temos que democratizar o acesso ao mar no Brasil. Tem que desenvolver não para concentrar em empresa, temos que compartilhar os benefícios da biodiversidade, para crescer junto. Não podemos deixar ninguém pra trás. No Brasil, as atividades em torno dos oceanos equivalem a 19% do PIB. O agro representa 21%! Boa parte disso é relacionado a serviços de turismo. A lógica tem que ser sistêmica: para ter lucro sempre, é preciso uma exploração sensata e consciente. O oceano é o principal local para fazer transição energética para uma economia de carbono”, destacou Turra.

 

 

“Uma de nossas lutas no litoral é sobre o banimento do plástico descartável de uso único nas praias. Não existe isso de ter lixeira. A maré sobe, aquilo voa, não dá tempo de descartar", disse Lika Souza.

 

 

A atriz Maria Flor insistiu em saber como ações individuais e de empresas podem ter mais impacto e citou a proibição do canudo descartável como um novo hábito que vem dando certo entre a população. Lika lembrou que o consumo das pessoas, por mais longe que morem dos oceanos, tem impacto. “Uma de nossas lutas no litoral é sobre o banimento do plástico descartável de uso único nas praias. Não existe isso de ter lixeira. A maré sobe, aquilo voa, não dá tempo de descartar. E também é preciso aumentar a vida útil do que é de plástico. É um grande desafio, mas a ciência e a tecnologia estão aí para isso. Não podemos pensar que é utopia”, afirmou a mergulhadora.

 

Para o professor da USP, uma das políticas que podem ser implementadas é a sobretaxa de produtos de plástico, por exemplo, e a redução de impostos de produtos mais sustentáveis. Ele participa de um grupo internacional de especialistas que assessora a ONU e produz relatórios para orientar as ações nos países. “Temos que trabalhar sistemicamente envolvendo toda a cadeia de valor. Para isso, é preciso ter ações individuais e coletivas. Temos que pressionar o poder público também”.

 

A 3º edição do Caminhos para Sociedades Sustentáveis: nosso oceano foi ao ar na sexta-feira 6, às 17h, transmitida simultaneamente nos canais de YouTube do Museu do Amanhã e do PNUMA. A live está disponível, na íntegra, em ambos os canais.

 

Foto: Aviv Perets no Unsplash