Cais do Valongo ganhará iluminação, projeto educativo e sinalização
Uma cerimônia com a presença de líderes importantes de instituições ligadas ao movimento negro e da Pequena África da região portuária marcou nesta terça, dia 17 de setembro, o início da segunda fase de obras do Cais do Valongo. Com investimentos da empresa chinesa State Grid Brazil Holding (SGBH), gestão do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), supervisão e apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o sítio histórico ganhará melhorias de infraestrutura, sinalização, valorização cênica e turística.
O projeto prevê a colocação de módulos expositivos que contam a história do Cais do Valongo e da região conhecida como Pequena África, uma nova sinalização, a instalação de guarda-corpo, além de iluminação monumental, sinalização direcional e câmeras de segurança. Um projeto educativo voltado às escolas da região portuária, além de ações de comunicação para engajar a sociedade sobre a importância histórica do local, também serão implementados pelo IDG.
“Começamos a participar do projeto de restauração do Cais do Valongo a partir de nossa gestão no Museu do Amanhã, quando entendemos que não só o Valongo, mas toda a região da Pequena África seriam parte integrante da curadoria, programação e ações de relacionamento com a comunidade. É uma honra, portanto, participar dessas duas fases das obras que vão valorizar o sítio, adensar sua participação no projeto educativo das escolas e no roteiro de turismo histórico da cidade. Já trabalhamos com as escolas da região no projeto Entre Museus, por exemplo, e vamos ampliar ainda mais essas ações educativas”, afirma Ricardo Piquet, diretor-presidente do IDG.
O secretário municipal de Cultura, Adolpho Konder, reitera que a história do Cais do Valongo precisa ser contada nas salas de aula: "É um lugar por onde passaram os ancestrais que formaram o nosso povo e uma grande parcela da nossa cultura brasileira. É preciso que a população conheça essa história. Podemos convidar todas as escolas da Zona Portuária para participar dos próximos eventos aqui. E que a história do Cais do Valongo seja contada nas salas de aula e seja reconhecida por toda população", afirma Konder.
A State Grid, uma das principais fornecedoras de serviços de transmissão elétrica do Brasil, investirá R$2,1 milhões por meio da linha de financiamento ISE (Investimentos Sociais de Empresas), disponibilizada pelo BNDES. O projeto tem apoio da Prefeitura do Rio através da Secretaria Municipal de Cultura, da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e do Instituto Histórico e da Cultura Afro-Brasileira. As ações têm duração prevista de 11 meses.
“Estamos orgulhosos de investirmos nas melhorias que serão feitas neste patrimônio mundial da Unesco e de contribuir com o IPHAN e o IDG nesse projeto fundamental para a preservação de uma parte fundamental da história brasileira”, declarou o diretor de Meio Ambiente, Fundiário, Saúde e Segurança da SGBH, Anselmo Leal.
SOBRE O CAIS DO VALONGO:
O sítio histórico está em obras desde maio de 2019 e estão sendo feitas no local o restauro das ruínas, limpeza, higienização, conservação e consolidação do lugar, com acompanhamento arqueológico. Essa implementação, também a cargo do IPHAN e do IDG com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e investimentos do Consulado Americano no Rio de Janeiro, tem previsão de conclusão em novembro próximo.
“O projeto de conservação do Valongo tem o propósito de implantar um centro de interpretação, um espaço acolhedor, de caráter educativo, que irá valorizar o sítio e traduzir ao público seu valor excepcional para a história mundial”, explica a presidente do Iphan, Kátia Bogéa. “O sítio Arqueológico Cais do Valongo é um local que nos reafirma a necessidade de lembrarmos aquilo que não pode ser esquecido para que não volte a se repetir. É um sítio de memória, ligado a fatos e eventos sensíveis para a história da humanidade”, analisou.
O Cais do Valongo foi considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, em 2017, por ser o único vestígio material do desembarque de cerca de 1 milhão de africanos escravizados nas Américas. Esta é a segunda intervenção no local desde a obtenção do título e tem, entre outros objetivos, a missão de difundir o valor histórico do local. O sítio arqueológico foi redescoberto em 2011 durante obras de revitalização da Prefeitura na zona portuária do Rio de Janeiro, na operação urbana Porto Maravilha. Rapidamente, recuperou seu significado na memória da escravidão no mundo e hoje é parte importante da área da cidade conhecida como Pequena África.
A cerimônia foi aberta por Ekedy Maria Moura, que entoou palavras e cantos de sua religião para celebrar e invocar a presença dos seus ancestrais. Negrogun, presidente do Conselho Estadual dos Direitos dos Negros, discursou e agradeceu pela união de seus pares e a disposição de todos os envolvidos no projeto a dar continuidade à valorização do Cais do Valongo. Adriana Odara, representante da Comissão Pequena África, lembrou a luta dos seus antepassados: “Não é por acaso que nossos ancestrais pisaram aqui. Eles vieram e também construíram esse país. Agradecemos por mais esse investimento na política de reparação para conseguirmos valorizar a luta de nossos ancestrais e o respeito por toda a humanidade.”