Museu do Amanhã recebe Saidiya Hartman

Na noite da última terça-feira (29), o Museu do Amanhã recebeu a professora e escritora americana Saidiya Hartman - convidada especial da Flip de 2022 - que participou da mesa redonda “Ficções e fabulações afro atlânticas”, ao lado de Eliana Alves Cruz, escritora e jornalista vencedora do 64º Prêmio Jabuti na categoria Conto. Com mediação da jornalista Yasmin Santos, Saidiya e Eliana trouxeram reflexões sobre as diversas experiências da diáspora que ocorrem com corpos negros e como a escrita se transforma em um instrumento de resgate das narrativas encobertas pelo colonialismo.

 

Durante o evento, que aconteceu no auditório do Museu e contou com transmissão ao vivo no YouTube, Hartman compartilhou com uma plateia lotada o processo criativo dos seus livros, que envolve a fabulação crítica e a pesquisa de arquivos históricos, métodos que surgiram durante a escrita da obra Perder a Mãe.

 

“Estava lendo um processo judicial do arquivo britânico e me deparei com uma menção a uma jovem que havia sido assassinada a bordo de um navio negreiro. Eu queria contar essa história, mas havia pouquíssimas evidências nos arquivos, então, usei vários elementos como pontos de vista: europeus, da tripulação e da seguradora. Pesquisei o que acontece com a mente quando você deixa o corpo faminto, o tipo de alucinação que se tem. A fabulação crítica envolve pesquisa de arquivo com especulação e imaginação”, explicou Saidiya.

 

Eliana Alves Cruz também falou sobre a dificuldade em encontrar documentos oficiais e da importância de reconhecer que as fontes orais também são um importante registro das histórias que não são encontradas nos arquivos públicos. “Eu acho que bula de remédio é documento. Tudo é documento, tudo fala sobre nós, os papéis e também as vozes. Então, quando eu decidi começar a contar a história da minha própria família, eu comecei a encarar tudo como documento: todas as pessoas e tudo que elas me diziam”, comentou a ganhadora do prêmio Jabuti.

 

O evento, que contou ainda com uma sessão de autógrafos após a mesa redonda, fez parte da programação do Museu do Amanhã no mês em que é celebrado o Dia da Consciência Negra.